Este blog é destinado a pessoas que se interessem pelo assunto da maternidade/paternidade.

Abordaremos assuntos tais como reprodução assistida, adoção, fé, educação, sentimentos, gravidez, curiosidades e muito mais....

Aceitam-se sugestões, idéias e comentários em geral.

Essa frase Quando anseio por um filho é o título do livreto escrito para compartilhar a experiência diante do desejo em ter filhos x a infertilidade.
Temos exemplares à disposição. Entre em contato através do email: sandrade.psiseguros@gmail.com

BREVE HISTÓRICO
Fiz 3 Fertilizações in vitro (FIV), 1 ICSI (outro tipo de tratamento) e 5 inseminações intrauterina, com dois hiperestímulos. Enfrentei dois abortos: espontâneo e gravidez anembrionada. Casada há mais de 10 anos, sem método anticonceptivo, preparando-me para mais uma inseminação, descobri-me grávida de 4 meses. Hoje meu segundo milagre está com quase 2 anos. O primeiro milagre, filho afetivo, tem 8 anos.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Fui entrevistada pelo Estadão (SP) - publicação em 06/09/2009

Reprodução assistida avança no País, mas normas são de 1992
Com a proliferação de clínicas, técnicas experimentais e antiéticas acabam
sendo vendidas como produtos

Eduardo Nunomura

A psicóloga Sandra Andrade de Castro é uma "fivada". Como milhares de
brasileiras, desejava mais que tudo ser mãe e, para isso, recorreu à
fertilização in vitro (FIV). Entrou para o clube de "fivadas", palavra
desconhecida da população, mas que para elas representa a vida, um filho ou
só o sonho de ter um. Cada vez mais casais decidem engravidar com a
medicina. Um projeto de vida que busca a alegria, mas é pontuado por dor,
sofrimentos físicos e emocionais, dias infindáveis e frustrações contadas em
tentativas.

Sandra fez três FIVs, todas fracassadas. Tentou outros dois métodos de
concepção artificial, teve dois abortos e pensou em desistir. Hoje, aos 40
anos, é mãe de Natan, de 8, e de Saulo, de 2. O primeiro veio por adoção. O
segundo, pela simples ação da natureza, sem nenhuma intervenção de
laboratório. "Abri todas as portas porque não sabia por qual delas Deus
mandaria nosso filho", lembra Sandra, recontando sua história.

Esta começou em 1996, quando aos 27 anos e um de casada, não conseguia
engravidar. Embora jovem, foi encaminhada a uma clínica de reprodução
assistida. Ela tinha a síndrome de ovários policísticos, com menstruações
irregulares, e seu marido, o advogado Marcelo Soares de Castro, acusava
baixa quantidade de espermatozoides. Sua primeira tentativa de engravidar
artificialmente foi por meio da fertilização in vitro. O método consiste em
retirar óvulos da mulher e deixá-los em contato com os espermatozoides do
homem. Se houver a fusão, o embrião é formado e introduzido no útero.

Foram três tentativas sem êxito para a psicóloga. Em duas delas teve
hiperestimulação dos ovários, sua barriga inchou com a água e foi internada
com risco de morte.

Depois de gastar muito dinheiro, Sandra recorreu ao serviço público em Belo
Horizonte (MG) para continuar o tratamento. Submeteu-se a uma ICSI, a
injeção intracitoplasmática de espermatozoide. É também uma FIV, mas com a
diferença de que um profissional introduz, com o uso de um microscópio, o
espermatozoide dentro do óvulo. Só deve ser indicado em casos graves de
infertilidade masculina (mais informações nesta pág.). Muitos casais por
desinformação, pressa em engravidar ou má prática médica aceitam pular etapa
na busca da reprodução assistida bem-sucedida. Partem para métodos complexos
e caros antes de esgotar os mais simples.

EXPLOSÃO DE CLÍNICAS

"A grande questão em reprodução assistida não é ter a tecnologia, mas se e
quando ela deve ser usada e quais suas implicações para gerações futuras",
critica Jorge Hallak, chefe do setor de Andrologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP). Hallak cita que muitas vezes antes de
partir para a ICSI, uma reversão de vasectomia ou o tratamento da varicocele
(varizes no testículo) já resolveriam o caso, se o problema estiver no
homem. Seis de cada dez pacientes de Hallak engravidaram sem recorrer aos
métodos mais caros.

As sociedades brasileiras de Reprodução Assistida (SBRA) e de Reprodução
Humana (SBRH) têm constatado a explosão de clínicas. Em menos de cinco anos,
dobraram. Hoje, são cerca de 200. Alguns hospitais públicos também passaram
a atender. Mas neles as filas são imensas. Em Brasília, são 4 mil mulheres.
Em Goiânia, mais de 200. A estimativa nacional é de 90 mil casos por ano à
espera de um tratamento, mas as redes pública e particular têm capacidade
para atender 20 mil.

Há uma década, quando o bebê de proveta já era uma realidade mundial, as
técnicas tinham uma taxa de fertilização em torno de 30%. Hoje, com a ICSI,
a chance de engravidar é de 50%. Sem tratamento, um casal que adota métodos
naturais tem 20% de probabilidade mensal de gerar um filho. Com índices tão
positivos, procura elevada e um número maior de mulheres adiando a
maternidade, as clínicas particulares proliferaram.

Como os planos de saúde não cobrem a reprodução assistida, mas pagam os
exames, a lei do mercado entra em jogo. Os preços de um tratamento FIV
começam em R$ 8 mil para mulheres abaixo de 40 anos e superam os R$ 20 mil
para as mais velhas. Um método como a inseminação intrauterina não passa de
R$ 2 mil. "Quando se queimam etapas, deixa de ser ciência e vira
mercantilismo", diz o presidente da SBRH, Waldemar Naves do Amaral.

RESOLUÇÃO DE 17 ANOS

A inexistência de uma lei da reprodução assistida criou um vácuo sobre o que
é permitido. Serve de norte aos profissionais uma resolução de 1992 do
Conselho Federal de Medicina (CFM). Ela proíbe a escolha de sexo da criança
(sexagem) se não houver indicação para evitar transmissão de doenças, limita
a quatro embriões a ser introduzidos por tentativa e não permite que
doadores de óvulos ou espermatozoides conheçam quem serão os receptores e
vice-versa, nem permite cobrar por esse ato.

Em outras situações, decorrentes de descobertas médicas surgidas depois de
1992, a resolução não diz nada. É o caso da transferência de citoplasma, da
maturação de óvulos e espermatozoides. São técnicas ainda experimentais, mas
que chegam a ser vendidas por clínicas como realidade. "É um risco oferecer
técnicas sem ter validação científica", diz Adelino Amaral da Silva,
presidente da SBRA. A entidade e outras relacionadas, como a de
ginecologistas e obstetras, enviaram na semana passada um ofício ao CFM
pedindo a revisão da resolução. "A normativa (de 1992) é ótima, panorâmica,
mas quando a técnica avança rápido, ela precisa ser revisada
periodicamente", afirma Naves do Amaral.

No Congresso, há projetos de lei de reprodução assistida que nunca são
votados. Mas para as entidades médicas esse pode não ser um problema. As
leis em discussão são restritivas e engessariam a prática. A não-existência
de uma lei, por outro lado, criou um indesejável rótulo para o Brasil, o de
rota do turismo reprodutivo. Estrangeiros chegam decididos em ter filhos e
escolhendo se serão meninos ou meninas. Sabem também que algumas clínicas
brasileiras aumentam a chance de gravidez com a técnica da transferência de
citoplasma. Considerada antiética, ela introduz no óvulo da futura mãe um
pedaço do óvulo de uma mulher mais jovem. A criança nascerá com a herança
genética do pai, da mãe e de uma terceira pessoa.

PARAÍSO REPRODUTIVO

O turismo reprodutivo é relacionado diretamente com a legislação local.
Alemanha e Itália são considerados mais restritivos. Espanha e França têm
mais tolerância. E os Estados Unidos são tidos como liberais. Muitos países
acabaram limitando o número de implantes de embriões para evitar filhos
múltiplos numa gestação. No Brasil, clínicas têm reduzido para 2 ou 3
embriões por vez.

"Existe muito marketing, envolve muito dinheiro e colegas têm acenado com
facilidades sem explicitar que se tratam de procedimentos com limitações",
alerta o chefe do setor de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da USP
Ribeirão Preto, Rui Alberto Ferriani. Cada caso deve ser tratado
individualmente e há um protocolo a ser seguido. "O fato é que as técnicas
têm ajudado um grande número de casais e nossa obrigação médica é explicar
aos casais os benefícios e os riscos desse tratamento."

A psicóloga Sandra desconhecia os efeitos colaterais que poderia enfrentar
quando pisou pela primeira vez numa clínica. Ela não foi bem informada dos
riscos que correria. De uma segunda clínica, Sandra e o marido saíram
horrorizados. O casal recebeu propostas de pacotes que incluiriam três
tentativas e valores diferenciados até o sucesso de uma gravidez. "Me senti
como uma mercadoria, como se o desejo de ser mãe fosse um leilão."

Em redes sociais da internet, há relatos de inúmeros casos de sucesso e
fracasso. Sandra depositou o seu em uma delas e, fora da rede, decidiu
escrever o livro Quando Anseio por um Filho. Embora seja uma psicóloga que
prega aos pacientes o equilíbrio, ela sentiu o mundo estremecer depois das
experiências ruins. Prefere agradecer por Natan (que considera presente
divino) e Saulo (implorado em orações), assim como espera que as técnicas
que não lhe foram úteis tragam os filhos dos outros milhares de casais.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Texto de Cláudia

Colo de mãe
- Cacau, quéio cóinho!, diz minha sobrinha Sofia, 2 anos

- Ahhhh??? O que você quer Sofia?, digo eu distraída, de mãos dadas com a pequena e olhando vitrine no shopping

- Cóinho, Cacau. Me dá cóinho!

Ia fazer novamente a pergunta, quando a fofura abriu os braços e veio para o meu colo, meu cóinho. Com a boca toda suja de M&M.

Mais uma vez, senti que a maternidade não é o ato de gestar e parir. A maternidade é muito mais que isso. Sinto-me mãe da Sofia, da Catherine, das minhas amigas, da minha mãe, da minha irmã, da minha tia...Estava pensando sobre isso quando recebi um lindo texto de uma amiga, a Patrícia Bono, em que ela diz que a maternidade não está presa nos limites do corpo que, berço esplêndido, carrega e faz nascer, mas está calcada no coração e através dele.

E é por isso que existem três tipos de mãe: a que gesta e pari; a que ama; e a que gesta, ama e pari. Neste sentido, temos que uma mulher não se torna mãe ao ver o seu rebento. Ela já nasce mãe. E por isso é maravilhosa desde sempre. Não existe um dia e hora no calendário para que se transponha a ponte, para que se faça o rito de passagem.

O amor de mãe existe no de dentro da mulher que, mais cedo ou mais tarde, desabrocha. Algumas mulheres desabrocham com a gravidez. Outras com o parto. Algumas seguem pela vida sendo promessas. E há as mulheres que amam. Já nasceram em flor. E amam a cada um que quiser ser um filho seu. A maternidade não é um evento. É um sentimento que não se contém, que transborda, que ilumina.

Colo de mãe é para onde se corre quando está escuro. É para onde se corre, certeiro, quando os problemas aparecem. Os verdadeiros. Os inexistentes. Os imaginários. E se esse colo não existe, onde se pode alcançar proteção? Aconchego? Amor? Talvez seja por isso que vemos pelas ruas mulheres com filhos, mas também temos a oportunidade de ver mães. Eu exercito minha maternidade todos os dias.

Acolho a todos que desejam ser meus filhos. E filho não tem idade. Nem quantidade. Nunca vai ter. E essa minha maternidade me ensina a cada dia. E a cada dia eu me sinto melhor por ter a certeza de ter tocado o coração de alguém. Aprender a respeitar as escolhas do meu semelhante me faz melhor. Entender as dificuldades de cada pessoa, tentando não julgar, me faz me sentir melhor. Demonstrar minhas dificuldades me faz mais tranqüila. Somos todos o reflexo do que damos ao mundo.